terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Poesia: Olhos Negros

(Inspirado em Maiane Ribeiro)

Amados olhos teus
Brilhantes adorados
Hoje fitam os meus
Cintilantes ignorados

Olhos negros penetrantes
Sentindo fortes olhares 
Olhos noturnos vagantes 
Navegam em outros mares.

Num turbilhão de sensações
Olhos negros são queixumes
Forte pulsar de emoções.
Olhos negros de ciúmes.

Diamantes faiscantes 
A me conquistar 
Lânguidos provocantes
A me desorientar.

Olhar miragem, devaneios
Força mágica intensa
Dominante por todos os meios
Minha fé, minha crença

Vejo na íris refletidos
Olhos inspirando amores
Aguçando meus sentidos
Negros, passionais, sedutores

Luiz Antonio Fascio

domingo, 23 de dezembro de 2012

Poesia: Chegou Miguelzinho


(Inspirado em meu irmão Miguel Fascio)


Hoje chegou Miguelzinho
Homem bom e de valor
Chegou cedo, o irmãozinho
Trouxe amizade e bom humor

Trouxe amizade e bom humor
Meu irmão, meu companheiro
Bem falante ele é ligeiro
Ele é filho de xangô

Ele é filho de Xangô
Um cavalheiro medieval
Apó-afonjá, afoxé nagô
Um arauto do Carnaval

Um arauto do Carnaval
Ao negro deu alforria
Benfeitor, deu moradia
Na senzala colonial

Na senzala colonial, se ouvia!
Foi um homem de muita fé
Ele nasceu, lá na Bahia
No sertão de Jequié

No sertão de Jequié
Sua fala era lei
Fosse briga fosse festa, era o rei!
Cantava a negra do acarajé.

Luiz Antônio Fascio
Rio de Janeiro, 10/11/73

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Poesia: Corda de Caroá

Caroá, flor da caatinga

A corda de caroá
Cordão...
Corda de amarrar
Novilha no chão
Do norte.
Lá, do meu sertão.
No rodeio de brinde e sorte
Em campo agreste, fervendo
Em tenda de acampar, chovendo
Corda de amarrar
Só corda de caroá
Com nó bem apertado
Não sai, nada desamarrado,
Não sai.

Não leva  a sua dor.
Nem traz o seu amor.
Mas a coda de caroá
Tudo que amarrar
Faz ficar, faz ficar
Tudo que amarrar.

Luiz Antonio Fascio

domingo, 16 de dezembro de 2012

Poesia: De Bar em Bar

(Inspirado nas festas e bares do Rio de Janeiro)

Vamos seguir nosso caminho
Temos muito que contar
De tristezas, amor e carinho
Nesses versos vou cantar

As paixões nas noites desfeitas
Deixaram-me quedo, sem poder falar
A mágoas de solidão feitas
Levaram-me de bar em bar

De amor eu fiz sofrer
Com amor fiz alegrar
Risos, risos, fiz querer
Seduzindo de bar em bar.

Discursos e comilanças colossais
Findavam ao sol raiar, de mar em mar.
Em festins de jubilosos canibais
Nas noitadas quentes, de bar em bar.

Em noites de cheia lua
Mandingas do lado de lá
Amante, amada, mulher nua
Nascendo, morrendo de bar em bar.

Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro, 1967

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Poesia: Espera Amiga

 
(Inspirada na primeira namorada Solange)

Sempre a espera amiga
Da ausência, da saudade
Minha inimiga!
Espera da amizade
Companheira.
Pela vida inteira
Da mulher primeira
Primeira namorada
Que se foi, na distância.
De todas, a mais amada.
Carinho de criança
Da mulher compensação.
Espera da primavera
Da mulher, devoção
Mulher criação.
Compreensão de mulher.
Que se foi, na alegria
Das noites e dos dias
Feitos com amor e fantasias
Mulher amante, agora distante
Presa em flagrante
Por um amor eterno.


Luiz Antonio Fascio

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Poesia: Amélia



Ela vem chegando
E vem toda sensual
Que maravilha monumental
Chegando exibindo seu corpo
A me fitar
Pele nua desliza mulher
A me enamorar
Meu querer bem me quer
A me conquistar
Uma for bromélia
Uma pop star
Amélia, Amélia, Amélia
Com o seus desejos
Inebriantes beijos
A me revelar
Uma princesa muçulmana
Me leva a atingir
O nirvana
Seus aconchegantes seios
Eriçados, só eu seios
O início, o fim e o meio
Sereno, ameno enleio
Maravilhar...

Luiz Antonio Fascio

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Poesia: Tristezas



Vim da Bahia, com intenções
Cheguei, cheio de sonhos
Com mil ilusões.

Noites de muitas serestas
Amanhecer de Marias
Risos de bares e festas
Só vivia alegrias.

Mas...
As intenções murcharam
Dos sonhos sempre acordei
Das ilusões, muito chorei.

Hoje vivo tristezas
Com saudades ficaram lições
Trago guardado incertezas
Rimas sem riquezas
Deformações.

Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro, 1971

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Poesia: Um Quadro

(Inspirado na construção do metrô do Rio de Janeiro)

A terra era barro enlameado.
A chuva caia incessantemente.
Chuva fina, fria, eternamente!
O vento
Uivava como um coiote
O frio
Cortava o ar como um chicote.
Lá embaixo
Uma ampla e larga gruta funda
Um buraco imenso escavado
Uma escuridão profunda
Indecifráveis objetos
Separados, amontoados.
Vergalhões, concretos, cantoneiras
Diversas máquinas escavadeiras
Terras em tubos
Ferros quadrados, redondos, sextavados.
Andaimes em cubos
Madeiras, arames em fieiras
Brilhos, faíscas e trilhos
Aço em chapas
Vermelhos capacetes
Amarelas capas
Borrachas em Braceletes.
Lentamente...
Operários conversam e fumam
Preguiçosamente...

Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro, dezembro/1975

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Poesia: Versos


Faço versos
Como quem padece
De saudades e desalentos.
Como quem esmorece
De tristezas e sofrimentos.
Versos
Pra meu deleite
Por simples prazer.
Na vida como enfeite.
Faço versos.
Como quem ora
Em contrição
Como quem chora
Em feitio de oração.
Versos chulos de amenidades
Versos nulos, por amizades.
Meus queixumes.
Meus pecados.
De ciúmes.
E amores afortunados.
No peito de amantes
Memoráveis
De paixões incuráveis.
De rimas ricas e consonantes
Em devaneios vibrantes.
Faço versos voando alto
Acima dos andes da liberdade
Um condor livre, altaneiro
Em busca da eternidade.
Versos por você
Mulher companheira.
Dádiva de paz
Pela vida inteira.
Faço versos sensatos
Que inspiram reais fatos
Em uma poesia popular
Um legado cultural
De uma arte natural
Que jamais perecerá.


Luiz Antonio Fascio
Jequié, 10/01/1999

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Poesia: Gosto de Mar



Orçando e arribando
O meu barco foi p'ro mar
Um bom peixe vai pescar
Peixe que mata a fome
Peixe se mata e come

Meu saveiro lá vai indo
O mar grande lá vem vindo
Em ondas de bonança
Trazendo só esperança
No mar, no verde mar
Verde que te quero verde
Verde que te quero bem
Verde que te quero vem
Vem me envolver
Todo, meu bem querer
No mar quero morrer
No mar que é meu alento
No mar de muito vento
No mar lá no fundo
No mar.
Com gosto de mundo.

Luiz Antonio Fascio

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Poesia: Para Liziene



Bate forte meu coração
Quando ficas comigo na solidão
Acelerado meu coração
Quando fostes embora.
Bate forte toda hora
Quando chegas ou estás fora.
Pela distância, inconstância
Avesso da vida.
Disritmia conhecida.
Se ficas ou se vais
Meu coração cresce demais.
Sede dos sentimentos
Bombeia meus movimentos
Corpo e pensamentos.
Fica enorme de prazer
De desejo ao te ver.
Meu coração enamorado
Bate forte calado
Aguenta firme ritmado
No meu peito emocionado

Luiz Antonio Fascio

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Poesia: Meu Violão Sedutor


(Inspirado em entrevista com Moraes Moreira)

Meu violão parou de tocar
Quebrou as cordas dos acordes
Afinados a me acordar
Parece zangado ou cansado está?

Minha viola onde guardo solidão
Mágoas, desejos do coração.
Dedilhando suas cordas macias
Encontro-me a viajar poesias
Sonhos, devaneios a enfeitiçar.
Extensão do meu corpo a trabalhar
Violão benfeitor a encorajar
Lembranças e refúgios
Tocas de leve meu ardor
Subterfúgios...
Traz minha fantasia, meu clamor!
Encanto de alegria, meu violão sedutor


Luiz Antonio Fascio
Jequié, 29/01/2004

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Poesia: Quero


Quero, ir pra Bahia
Quero, a Dora todo dia
Quero, uma flor bem cheirosa
Quero, uma mulata dengosa
Quero, de Minas um bom queijo
Quero, um uísque e o teu beijo
Quero, uma rede colorida
Mesa farta, muita comida.
Quero, um tocador de violão
Quero, escrever uma linda canção
Quero, uma negra sestrosa.
Quero, minha filha teimosa.
Quero, uma rima rica e airosa
Quero, um baralho novo
Um jogo regado e gostoso
Quero, um disco do Gil
Quero, de Vinícius versos mil
Quero, de Bandeira a poesia
Muita música com alegria.
Quero, um filme de Glauber Rocha
Um livro de Jorge Amado
Quero, ser amante, muito amado.
Quero, meu filho moleque, bem criado.
Quero, a praia e o mar
Quero, duas mulheres para casar
Quero enfim
Um mundo só p'ra mim.


Luiz Antonio Fascio

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Poesia: O Seu Olhar


(Inspirado em Dulcineia Novais)

Como a pureza das flores
O suave do vento
Como a beleza das cores
A paz no céu, o firmamento.
Nuvem de véu, diáfano.
Bailar no ar, do seu olhar.
Olhos de mel de forte miragem
Realce, projeto o brilho.
Do seu olhar, vejo a imagem.
Cravada na trilha
Do seu caminhar.
No alvorecer dos passarinhos
Num lindo gorjear
Saindo dos ninhos
Realce projete o brilho.
Do seu olhar castanho.
Contemplam esplendor de antanho
Cravo, canela, acaçá.
Floreio, verbena, bonina.
Reflete amarelo, azul retina.
Olhos que fitam amores.
Nas flores, nas cores.
No brilho do seu olhar.


Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro, 1962


domingo, 28 de outubro de 2012

Poesia: Eu Poeta Sonhador



Gigante coração desbravador
Vibrante de emoção encantador
Alegre e bem disposto
Com a vida sempre a gosto
Pra frente, pro alto, de com força
Com a força dos humildes e justos
Sem esforço, sem custos
Com gosto de mar profundo
Salutar a embalar o mundo
Profano e cristão, cigano e barão
Amigo e servidor
Leal companheiro do amor.
Do amor vital, do amor sensual
Gente como a gente, espiritual!
Eu poeta sonhador
Desconfiado, ciumento, inovador
Sedutor, barulhento e responsável
De boa conversa, afável!
Italiano descendente, bom jogador
No baralho da vida, comunicador
Teimosamente feliz
Sabendo bem o que diz
Marido, irmão, pai e avô


Luiz Antonio Fascio
Jequié, 19/11/2004

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Poesia: Mariana Marianinha


(Inspirado em minha filha Mariana Oliveira)

Meu sonho de carinho
Do suave ventre ninho.
Chegou nina-rosa
Dengosa.
Chegou, Mariana bonita.
Marianinha catita.
Serelepe e risonha.
Sabida e sapeca.
Levada da breca.
Mariana, Marianinha
Minha queridinha.
Amor e doçura
Viva!
Vida candura.
Olha brilhante e redondinho
Faz careta com o narizinho.
Tagarela e mama, ligeirinho ligeirinho.
Papai e mamãe.
Não sabe quem quer.
Mamãe e papai
Bem me quer, bem me quer.
No colo pula.
Feliz bem feliz
Filha caçula
Do papai Luiz.

Luiz Antonio Fascio
Jequié, 10/03/1993

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Poesia: Pensando em Isabel



Continuo querendo todo dia
Continua amante dos teus zelos
Dos teus cabelos
E de tuas mãos cheias de bondade.
Preciso do teu carinho agora
Dos teus conselhos de amizade.
Do teu cheiro sem demora.
De tua pele macia
Cor de mel
Minha doce Isabel.
Teus gestos, tua imagem
Uma bela paisagem
Ao meu pensamento ativo.
Amante cativo
Dos teus apelos
Dos teus pelos
E de tua fala amiga
Para que eu siga
O meu caminho.
Ao meu eterno céu
Ao nosso ninho
Minha doce Isabel.


Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Poesia: Vento Viração, Ventania Ventaniá


Sou do céu azul
Vim das ilhas do sul
Sou mar de sargaço
Sou planta aquática
Sou fibra de aço
Sou carta náutica
Tenho peito de quilha
Com gosto de mar
Tenho mais de uma milha
Nasci para amar.
Sou vento viração
Ventania ventaniá.

Sou sol e sal
Sou mar de perau
Sou bom e sou mau
Sou água marinha
Sou verde do mar
Sou bela andorinha
Gaivota a voar
Sou velas soltas
Em ondas revoltas
Horizonte a navegar
Sou vento viração
Ventania ventaniá.

Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro, 1969

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Poesia: Em Santa Tereza



Vou p'ra longe morar
Em Santa Tereza
Com a natureza
E a paz do lugar
As flores se abrindo
O cheiro do cravo
De forte cheirar
Os lírios dos campos
A paz do lugar.
Lá embaixo o mundo
Um mundão de paisagem
O relance, a passagem
O complexo, a engrenagem
A mistura, a fuligem
Pedregulho, a origem
A distância e o mar.

Em Santa Tereza
De longe morar.
As açucenas pequenas
Aboninas, verbenas
As tenras meninas
De muito caminhar
De pernas grossinhas
De ladeira andar
O bonde, a alegria
O largo, a poesia
As rosas, os espinhos
Os pássaros, os seus ninhos
Natureza cheirosa
O orvalhar...
Em Santa Tereza
De longe morar.

Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro, 27/08/1974

domingo, 14 de outubro de 2012

Poesia: Próximo Verão

(Inspirado nos encontros com Lílian Oliveira)

Não vou mais me enganar
Agora terás.
Um amor que ordena
Com luxo e volúpia serena.
Sem mais lamento
Vou me encontrar.
Como vou te explicar?
O meu amor como será
Ás vezes será doce e lento
Como um cisne em movimento.
Por vezes violento
Como um leão faminto
A te procurar.

Não irás reclamar.
Nem vais te opor
Isso eu garanto.
Nem que preciso for
Te convencer a aceitar.
Não dirás mais...
Meus livros, meus pássaros
Meu cachorro, minhas flores
E sim...
Nossa casa, nossos livros
Nossas rosas, nossos amores.

Sentirás minha falta
Mesmo quando não te deixar em falta
Perguntarás, em voz alta
Quando voltarás?
Que será de mim quando partires?
Eu, que te quero tanto
Tens no meu corpo, teu encanto!

Essa  casa vai ficar tão vazia.
O quarto ficará tão grande.
A noite será sem alegria
O dia frio, sem fantasia
Vou ficar só com teu cheiro.
Esperarei os dias por inteiro.
O próximo verão chegar
E dirás...
Quando de vez ficarás?


Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro, 1967

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Poesia: Eu Fui Deus



Hoje, eu falei com o mar
Tanta coisa ele me contou
Dos mistérios seus.
Eu, fui homem
Eu, fui Deus.
Pude amar.
Falei com as árvores
Falei com as flores
Dos meus amores
Do meu lugar.
Com os pássaros
Pude cantar.
Hoje, eu fui Deus
Amei os olhos teus
Cheguei, até a chorar
Quando a dor
Me cantou
Que a saudade
Ia voltar
Quando o  tempo
Que tem tempo
Me avisou
Antes do tempo
Que a chuva
Minha amiga
Ia me regar.
Eu falei e vou cantar.
Que sou Deus
Que sou homem
Sou o amor de amar.


Luiz Antonio Fascio

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Poesia: Negresia


Negra, cor padrão
Negra, libertação
Negra, minha afeição
Negra escuridão
Negra, minha cor
Negra, meu amor
Negra, minha mulher
Negra, minha fé
Negra, a piedade
Negra, a caridade
Negra, toda bondade!
Negra, minha cura
Negra, só ternura
Negra, mãe de leite
Negra, meu enfeite
Negra, meus achados
Negra, meus pecados
Negra, mulher cheirosa
Negra, toda sestrosa
Negra, sangue forte
Negra, boa sorte
Negra, casta dominadora
Negra, graça animadora
Negra, dos encontros
Negra, dos meus contos
Negra, liberal
Negra, do carnaval
Negra, exaltação!
Negra, um sambão
Negra, porta bandeira
Negra, brasileira
Negra, guerrilheira!
Negra, boa escrava
Negra, raça brava
Negra, acalanto
Negra, muito pranto
Negra, sofredora
Negra, redentora
Negra, salvadora
Negra, varonil
Negra, do meu Brasil!


Luiz Antonio Fascio
29/06/1973

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Poesias: As Tuas Mãos

(Inspirado nas mãos de Dora Coutinho)

Adoro as tuas mãos
As mãos que acariciam
Mãos que escrevem
Mãos que me guiam.
Que me esclarecem
Que me aquecem
Que junto do meu peito
Me enternecem!
As tuas mãos adoro
Elas, por quem choro
Quando me acenam partida
Elas, por quem oro
Quando ao longe despedida

Mãos que falam ternura
Mãos de fartura!
Mãos de aconchego
Mãos de sossego
Mãos de chamego
Mãos serenizadas
Mãos eternizadas
Mãos dadas!
Mãos de todo dia
Mãos de toda hora
Mãos de melancolia
Mãos de Dora.


Luiz Antônio Fascio
Rio de Janeiro, 22/08/1973

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Poesia: Viagem de Trem


(Inspirado nos trens da Central do Brasil)


Na entrada do trem
Tudo vai tudo vem
No balanço do trem
Tudo vai tudo vem
A morte espreita
A direita
Do trem que vem
Sinal fechado
Sinal vermelho
Povo calado
Povo cansado
Do trem que vai
Gente como a gente
Amontoados, apavorados
Parecem animais
Todos pendurados
Gritos de horror
Pisões, palavrões
Roubos, cor muita cor
Trem que passa
Trilho, fumaça.
Cheiro, odor
Dormentes, vagões
Trilho, trilhões.
Gente caindo
Outros dormindo
Pedra no ar
Vidraça quebrada
Sangue, facada
Viagem acabando
Tudo esquecido
Viagem acabando
Nada mudou
Vida nascida
Amanhã novamente o temor.


Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro, 1964

domingo, 23 de setembro de 2012

Poesia: Gravitacional

(Inspirado no filme 2001 - Uma Odisseia no Espaço)

Flutuando no espaço sideral
Flutuando sem cordão umbilical
Nave de aço incandescente
Entra na atmosfera quente
Do planeta Marte, girando, girando
Listras de fogo, passando, passando
Girando a nave sem encarte.
Labaredas brilhantes, entrando, entrando
Nas retinas em espasmos, gravitacional!
No sub-id desperta, transcendental
Estados de greve, transformacional.
Explosões, gravitações, meteoros
Compressões, sem respiração nos poros.
Erupções de sons, em tons, atonais
Fragmentações de lavas, lava, levitacionais.
Zunindo, zumbindo, látego fluorescente
Desce lépido, ziguezagueando, esfriando, esfriando
Chegando sem sentido latente
Sentindo transformações tais
Em pedaços de micros meteoritos
E nada mais.


Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro, 30/03/1973

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Poesia: Minha Bailarina



Minha insinuante bailarina
Dança, dança, dança
Doce menina felina
Portal da esperança
Ginga o corpo sensual
A mágica maravilhosa
No espaço virtual
Deslizante e habilidosa
Bela e jovem generosa
Deusa estonteante,
Musa dançante!
Cria em mim fantasias
Levianas alegrias.
Dançarina oriental
Odalisca!
Inspirando desejo carnal
Passo a passo segue a risca
O ensaio geral.
Aos sons dos tambores
Acorde e cores
Salsas e merengues
Faceirices e dengues
Baladas divinas.
De obras primas!
Dança dança
Dança bailarina!

Luiz Antonio Fascio
Jequié, 09/04/2001

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Poesia: As Cordas Macias do Meu Violão

(Dedicado ao compadre e amigo Reinaldo Pinheiro)

As seis cordas macias
Do meu violão encantador
Tocam rimas de amor
Melodias de paixão
Dedilhadas com emoção.
No peito apaixonado
Do poeta e do cantor.

Meu violão enamorado.
De macias cordas concebidas.
De música encantado.
Tristezas e alegrias incontidas.

Seis cordas que cantam vadias
Minha imaginação.
São cordas vibrantes
Compassos errantes
Do meu coração.

Como dizia o poeta
É a madeira fria
Que canta minha agonia
É a rima talentosa
É a mulata dengosa
É só fantasia!

Luiz Antonio Fascio
Jequié, 11/12/1998

domingo, 16 de setembro de 2012

Poesia: Nas 200 Milhas



Dum mergulho só
Que eu dei no meu mar
Das 200 milhas
Vou te contar o que vi lá.

Eu vi, acredite meu irmão!
Um paru-preto
Um polvo grande e o mexilhão
O peixe frade e um lixa-cação
A lagosta, a sinhá-rosa e o tubarão
A caraúna, a tartaruga e o vermelhão
O atum-preto, peixe-agulha e o namorado
O mero-grande, serrador e o linguado.
O xaréu, anchova e o dourado
O siri, cachalote e o lambari
Baleia jubarte, bonito e a sardinha
Baiacu, barracuda e a tainha
A cavala e uma cavalinha.
Peixe-lanceta, moreia e o badêjo
A bela arraia, o bagre e o caranguejo
Peixe-machado, enguia e o golfinho
Pampo, dentado e o cavalo-marinho
Os budiões  e os camarões
Os budiões e os camarões!

Dum mergulho só
É riqueza só, é fartura só.


Luiz Antonio Fascio

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Poesia: O Boiadeiro


Do lado de lá
Do mundo distante
Vocês vão saber
Da vida errante
Do boiadeiro do norte
Um cabra de pouca sorte.
Um violeiro, bom de corte
De corte, a faca e facão.
Boiadeiro e brigador.
Com boi, peste ou ladrão.
Sem nunca temer a dor
No chão, duro do norte
No aboio de grito forte
Curtido de couro e gibão.
Lá vai pelo sertão
De sol tudo fervendo
O boiadeiro, canta gemendo
Canção de amor dolente
De peão aboiador
Montado em corcel valente
Manga-larga marchador.
Ponteiro desde menino
Boiadeiro sem destino
Homem bom e de valor.



Luiz Antonio Fascio

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Poesia: O Meu Amor Por Você

(Inspirado em Ana Maria Leal)

O meu amor por você
É livre como um pássaro
Uflando as asas num campo
De trigal.
Lindo, sereno, jovial.
O meu amor por você
É como as flores silvestres
Cheiroso, odor campestre.
Lípido, claro como as águas
Da cachoeira
Sem eira, nem beira.
Forte como aço
No meu peito ardente.
Firme, impulsivo, latente.
Sedutor ativo!
O meu amor por você 
É látego flamante
É brasa acesa, incessante.
Desejo incontido.
Febre, tara, loucura sem sentido.
O meu amor por você
É fogaréu eterno
Áurea no étero firmamento.
Voou liberto, pensamento.
Sexo completo, divinal!
Doces delírios, fenomenal!
O meu amor por você
É paixão vertente.
Traço, régua, compasso.
Início, embrião, semente.
Vida, forte abraço.
Ai, o meu amor por você.

Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro, 1966

domingo, 9 de setembro de 2012

Poesia: A Uma Mulher

(Inspirado em Darlene Neves)

Ela só guarda desgosto
Ela só guarda desdém
E traz marcado no rosto
O trágico que a vida tem.
Ela só guarda lembrança
Da partida, ainda criança
Do carinho de quem a criou.
Do pai alegre, que a ensinou
A bondade, o perdão, o amor.
Partida, freio amargo
Duro encargo!
O fel que travou
Bem no fundo do peito
E a pegou meio sem jeito.

Mais tarde, alguns anos distante
O desamor do amante
A mentira, a injúria sofrida
A dura vida oprimida
Abriu outra ferida
Crescendo chaga antiga
Que a tornou moribunda
De querer com afeição profunda
A volta da felicidade perdida.
Que de repente ficou presente
Um pouco tarde, esquecida
Um pouco tarde, ausente
Do desejo, nos olhos, na mente.


Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro, 24/06/1973

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Poesia: Oração


Obrigado Senhor
Pela oportunidade
Que me deste
De ser bom
Por tudo quanto
Me dissestes
E por ouvir o som.
Obrigado Senhor
Pela pureza das flores
Pela beleza das cores
Pelo sol, que dá energia
Pela chuva que molha a terra
Trazendo alegria
Obrigado Senhor
Pela natureza
Por crer e ter certeza
Pelas estrelas
Por vê-las.
Pelas crianças
Por ter esperanças
Obrigado Senhor
Por estar em mim
Por dizer sim
Por todo o bem
Para todo o sempre
Amém...

Luiz Antonio Fascio
Jequié, 1993

domingo, 2 de setembro de 2012

Poesia: Mamãe

(Em homenagem a nossa mamãe Gildásia)

Como um dia de sol a raiar.
Uma força vigorosa a criar
Mamãe Gildásia dos louvores
Dos gostosos sabores
Maternalmente educando
Os seus filhos cristãos
Com fé, garra e devoção.
Trabalho, labuta no dia a dia.
Otimismo, receita nos envia.
Três filhos bem criados
Por Deus abençoados.
De amores bem cercados
Mamãe Dazinha!
Doceira de mão cheia
Fazendo o pé de meia
Professora de bordado
Com carinho rendilhado
Domesticamente, catolicamente
Viveu pela vida inteira
Amor de mulher companheira.
Solidária, caridosa, clarividente.
De habilidade transparente
Eis a mamãe do meu lar
Lar de doces recordações
Um manancial de emoções!


Luiz Antônio Fascio

domingo, 26 de agosto de 2012

Poesia: Clara Marinha


No marulho do mar
No marulho do mar
Ondas vão.
Em vão...
Verde e brancas espumas
Quebrar
Como plumas
Quebrar
No meu mar.
No meu mar de água clara
Clara, mulher
Na praia vou encontrar
Todo dia.
De manhã ao meio dia.
Clara morena beijar
Clara, dos olhos da cor do mar.
Do mar da Bahia.
Dos olhos claros em claro dia.
Clara sozinha.
Tão pura e tão minha.
A tardinha ao sol se pôr.
Clara chorou.
E se transformou
Em alga-marinha
Que o mar levou
Em ondas vivas, volativas.
Sempre vivas.
Salve rainha!
Salve rainha Iemanjá.
Clara, é minha Iemanjá.
Clara pura, veio de lá
Do mar, do fundo do mar.



Luis Antonio Fascio

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Poesia: Só Eu Sei-os

(Inspirado na minha espanhola Vera)

Ah, se poeta eu fosse
Pra cantar tua formosura
Um dia, cantaria teus cabelos
Cacheados e sedosos
Teus olhos, pidões e penetrantes
Olhos de mel, doces olhos.
Se poeta eu fosse!
Cantaria algum dia quem sabe...
O teu nariz de grega
A tua boca!
Gostosa boca de lábios sedutores
O teu riso largo, de sorriso alegre,
Claro e bonito.
O teu pescoço de princesa austríaca
A tua pele cheirosa e lisa.
Peladamente lisa, peladamente nua.
Cantaria, se poeta eu fosse...
As tuas pernas!
Longas pernas, torneadas pernas
Que pernas!
Ai, todos querem olhar.
Cantaria, se poeta eu fosse
Os teus seios.
Só eu sei-os lindos
Só eu sei-os hirtos,
Macios e sexys
Ah! Só eu sei-os.

Luiz Antonio Fascio
Rio de Janeiro, 1970
                                                                                                                            

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Poesia: Minha Amada da Cidade

(Em homenagem a minha esposa Gildete de Oliveira)

Minha amada da cidade
É pura, límpida
Não tem idade
Suave, cândida
Sem vaidade.
Minha amada da cidade.
Cheirosa, um jasmim
Dengosa, meu quindim
Cravo, de gosto
Canela, na cor
Lindo é o rosto
Desejo de amor.
Minha amada da cidade
Riso contente
Pele macia
Cativa toda gente
Beleza irradia.
Minha amada da cidade
É doce delírio
Êxtase, sedução
Amada e amante
É uma linda canção.
Hum! Minha amada
Oh! Adorada emoção
Ai! Minha amada da cidade.



Luiz Antonio Fascio
Jequié, 19/04/1989

domingo, 19 de agosto de 2012

Poesia: Mulheres no Carnaval


O trio elétrico invade a fantasia
Frenéticas guitarras, sem amarras
Entre a zoeira e a poesia
Atacam delírios de fanfarras
No carnaval da Bahia

Nas danças sensuais e formosas
Nas ruas e vias tortuosas
Timbalam negras, brancas e morenas
Livres rainhas falenas
Invadindo a praça do povo
Mensageiras de um mundo novo
Misturam cores, flores e amores
Na miscigenação dos sons
No burburinho cigano dos tons

De um jeito gostoso baiano
Entre o sagrado e o profano
Nas ancas brancas de Juliana
Nas coxas douradas de Fabiana
Fêmeas, guerreiras encantadoras
Marias e Maras Maravilhosas
Bem vindas, Suzanas sedutoras
De idas e vindas, charmosas
Mulheres mágicas e sinuosas.





Luis Antonio Fascio
Jequié, 26/06/2000

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Poesia: Grito de Alerta




O inimigo na mata se infesta
A espreita matando a floresta
Queimadas, em nossas esperanças
Chamuscadas, plantas serão lembranças.
Cortando vidas...
Assassinando árvores nossas
Acabando com as roças.
Serra, serra, roxo-ipê
Faz louro, baraúna gemer
Mogno, pinheiro, ingá
Peroba do campo, Jacarandá
A mangueira, a figueira
A cascata, a cachoeira
Sem eira nem beira.
Que esse grito de alerta
Chegue na hora certa
Aos campos férteis de trigais
Aos lírios, vales e matagais.
Correm perigo de vida!
Cafezais, manguezais e canaviais.
Escutem a música cristalina
Dos rios, riachos, ribeirões
Dádiva divina!
Ou chorem lágrimas nos sertões.
É chegado em tempo o meu brado
O meu canto ecoado
Contra os assassinos, bandidos e vendilhões.
Jamais irão transformar
Um paraíso em deserto
Escutem o que é certo!
Parem!
O desequilíbrio é eminente
Não tornem o planeta doente
Seja, mais um sensato
Preserve, a água de beber
Respeite, o bicho do mato
Deixe, a floresta crescer!




Luiz Antônio Fascio
Jequié, 28/06/2002